quinta-feira, 8 de abril de 2010

Portugal dos... fascistasitos

Em tempo de férias dá-me para isto, porque gosto de fazer deste sítio um prazer, e não uma imposição. Como tal, qualquer altura considero propícia.

Para ajudar a calcar uma realidade que já tenho por aqui discutido, menciono hoje uma obra do tempo do Estado Novo que ainda não me tinha apercebido de quão relacionada está com todo este período: o Portugal dos Pequenitos.

Admito que sempre tive um apreço por este espaço. Quando lá fui pela primeira vez não falei de outra coisa durante semanas e recordo com uma certa nostalgia o poder passear por aquelas casinhas, entrando e saindo, espreitando pelas janelas e subindo pelas colinas. Não que tenha crescido muito, mas hoje já me é um pouco difícil passear por essas mesmas casas sem me curvar toda!
Foi com essa mesma nostalgia que me encaminhei com a família para Coimbra, nesta minha expectativa de reencontrar este lugar, e de ver nos olhos do meu sobrinho o porquê de gostar tanto daquilo. E, claro está, a oportunidade de me sentir maior do que aquilo que realmente sou.
No entanto, os olhos com que eu vi tudo aquilo são deveras diferentes, e consegui ver mais do que a bela brincadeira com que as crianças que por ali brincavam nos brindaram.

A exaltação do Mundo Português! Hoje, com toda a informação que tenho, vejo por todas as placas, por todas as casas do primeiro espaço, esta exaltação por um mundo descoberto por portugueses e para portugueses, o maravilhoso contributo que demos a todo o mundo civilizado por termos feito tal descoberta. Parecemos autênticos heróis, bravos marinheiros, magnífico povo! Tudo naquele espaço remete para este grandioso império, um Portugal vasto e totalmente unificado!
Ora, que bela demonstração que somos um só povo, único e meramente distanciado pelo oceano.

Entramos então para um outro espaço, O espaço. Primeiramente, pensava apenas num conjunto de casas pequenas onde podíamos brincar, e agora começava a reparar nas várias tabuletas que apareciam nas pequenas portas, e que me informavam que eram pedaços do Mosteiro da Batalha, ou que estava perante uma típica casa do Minho ou de Évora.


Tudo naquele lugar quer dar uma outra imagem de Portugal; quer mostrar Portugal como um país Grande, de Valor, repleto de maravilhas e de coisas que o tornam tão único entre todos os outros países. Tudo ali tenta mostrar as maravilhas deste pequeno lugar, numa pequena escala.
Há até uma estátua de Afonso Henriques com todas as datas das conquistas das várias cidades, com um apelo às crianças para notarem na sua grandiosidade.

Em nada disto tinha eu reparado na minha primeira visita, e julgo que nenhuma criança repara nisto quando lá vai pela primeira, segunda ou mesmo terceira vez. Apesar de ser chamado de Portugal dos Pequenitos, e mensagem parece ser mais para os pais do que para os filhos. Esses querem é brincar - pelo menos assim é hoje. Na altura, não sei como era.

Ao sair, passando novamente por todos os monumentos às descobertas portuguesas, pergunto ao meu pai:
- Isto foi construído no Estado Novo, não foi?
- Talvez... Já deve ter uns quarenta anos.
- Sim, isto parece obra do senhor António...

Quando chego a casa, tal é o meu espanto quando procuro na Internet e vejo que este querido lugar abriu portas em 8 de Junho de 1940. Curiosamente, no mesmo ano que teve lugar a Exposição do Mundo Português...

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