Quando falo em orgulho, não me interpretem mal: falo nesta admiração por aqueles que lutaram pelo mundo no qual vivo hoje. Aliás, nem tanto por este mundo, mas por um melhor que acabou por se virar e ficar na... coisa que está hoje.
Na verdade, o 25 de Abril foi exactamente um momento da história deste país repleto de ideais, boas intenções e caos. Acabou por ser um pouco a nossa própria Revolução Cubana, sem a guerrilha e os ideais socialistas tão afincadamente defendidos e postos em prática.
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Marcello Caetano tinha acabado de tentar democratizar o país, à sua maneira; continuou a ser uma ditadura, escondida sobre as belas flores que íam florescendo na Primavera Marcelista... ou que Caetano queria que florescessem. No entanto, ninguém lhe pode negar o esforço de ter tentado.
O que escapou a Marcello Caetano, e aquilo que penso que não estaria à espera, é que uma nova mentalidade vinha crescendo. Já ninguém queria aguentar a guerra, as saudades dos familiares em África ou fugidos por uma Europa fora, uma escolaridade que tentava mostrar um Portugal que não existia. Os estudantes revoltavam-se por essa nova mentalidade e queriam mudança.
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Toda esta mentalidade e revolta acabou por ir de encontro à revolta dos próprios militares que viram a guerra a facilitar demasiado aqueles que não eram militares, em seu deterioramento. A guerra não acabava e, com ela, continuava o sistema que a tinha começado e prolongado.
O resto é história: ouviu-se Paulo de Carvalho, ouviu-se Zeca Afonso, todos foram para a rua e no Largo do Carmo as tropas de Salgueiro Maia deram por finalizado o Estado Novo.
Penso que toda a revolta começou a crescer ainda antes do início da guerra, com a morte de Humberto Delgado: a sua única fonte de esperança, sem medo de dizer o que lhe ía na alma, acabou no mesmo destino que todos os outros que por instantes decidiram fazer frente a todo um movimento.
E teve culminar exactamente naquele dia de Abril, em que cravos vermelhos passearam por Lisboa em sinal daquela Liberdade desejada, e esta Liberdade vai além da mera Liberdade de expressão; é toda uma Liberdade de pensamento, de comportamento, de vida.
Seja que revolução for, das mais revolucionárias (passo a redundância) às menos sentidas globalmente, não costumo dar atenção ao porquê do seu início, às verdadeiras razões daqueles que as despoletaram e não aquelas que são publicamente expressas. Neste caso passasse o mesmo: os militares até podiam estar unica e exclusivamente preocupados com as suas carreiras e vidas, mas acabaram por mudar a situação de todo uma país, o qual agradeço do fundo do meu coração.
Do que tenho pena, e uma pena profunda, é de não ter existido uma maior gestão e organização depois de todo o movimento de Abril.
Foi o total caos! Tudo o que ficou por dizer durante cerca de 50 anos foi dito, foi feito, foi mostrado! Nem o Governo Provisório se aguentou muito tempo, tal era o caos, e o próprio MFA teve de tomar as redeas por uns tempos. O problema é que ninguém sabia para onde se virar, tantas eram as opções.
Foi altura de reviravolta. Tenho pena que o rumo tomado tenha chegado e este impasse, a esta política imunda e não dá esperança a ninguém. Aliás, a gestão é tão má que mesmo em recessão nos damos ao luxo de dar milhões a um país em falência!
Um dos maiores lugares-comuns portugueses que se ouve é que o 25 de Abril ainda não acabou.
Honestamente, acabou. Acabou ali, à meia-noite, quando começou o dia 26. O 25 de Abril foi efémero, foi a Revolução, foram os cravos nas espingardas e o povo na rua.
Porque o 25 de Abril é sinónimo de mudança, de luta por ideais, de uma vontade expressa em mudar a realidade presente. Onde encontramos isso agora? Quando supostamente nada nos impede, ao contrário do que acontecia no Estado Novo, não nos levantamos e dizemos que queremos demitir quem não nos deixa viver dignamente! Temos a liberdade necessária e estamos tão acostumados a ela que mesmo criticando não lutamos por nenhuns ideais, não nos juntamos para mudar uma realidade conjunta!
Há 36 foram os militares que deram o primeiro passo, e hoje ninguém o dá; escondem-se atrás de greves que não têm resultado e ameaças que não são levadas a cabo.
Ninguém vê que o 25 de Abril acabou? Temos a liberdade à nossa frente e nada fazemos com ela.
O 25 de Abril está morto e enterrado nos livros de História e corações que o viveram, relembrado apenas uma vez por ano.
Não pode estar vivo...
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Mesmo continuando a apregoar as palavras, já nem se unem por aquilo que realmente interessa.
O momento fatídico.
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Crónicas à minha História