domingo, 18 de abril de 2010

36 anos de lamúrias e quietude

Tenho um certo orgulho na História de Portugal, em vários aspectos. Na sua maioria, apenas porque parecem demonstrar a força de um povo que, mesmo oprimido, marcha contra os canhões por aquilo em que acredita. Confesso que tenho um carinho especial pelo 25 de Abril.
Quando falo em orgulho, não me interpretem mal: falo nesta admiração por aqueles que lutaram pelo mundo no qual vivo hoje. Aliás, nem tanto por este mundo, mas por um melhor que acabou por se virar e ficar na... coisa que está hoje.

Na verdade, o 25 de Abril foi exactamente um momento da história deste país repleto de ideais, boas intenções e caos. Acabou por ser um pouco a nossa própria Revolução Cubana, sem a guerrilha e os ideais socialistas tão afincadamente defendidos e postos em prática.



Marcello Caetano tinha acabado de tentar democratizar o país, à sua maneira; continuou a ser uma ditadura, escondida sobre as belas flores que íam florescendo na Primavera Marcelista... ou que Caetano queria que florescessem. No entanto, ninguém lhe pode negar o esforço de ter tentado.
O que escapou a Marcello Caetano, e aquilo que penso que não estaria à espera, é que uma nova mentalidade vinha crescendo. Já ninguém queria aguentar a guerra, as saudades dos familiares em África ou fugidos por uma Europa fora, uma escolaridade que tentava mostrar um Portugal que não existia. Os estudantes revoltavam-se por essa nova mentalidade e queriam mudança.



Toda esta mentalidade e revolta acabou por ir de encontro à revolta dos próprios militares que viram a guerra a facilitar demasiado aqueles que não eram militares, em seu deterioramento. A guerra não acabava e, com ela, continuava o sistema que a tinha começado e prolongado.
O resto é história: ouviu-se Paulo de Carvalho, ouviu-se Zeca Afonso, todos foram para a rua e no Largo do Carmo as tropas de Salgueiro Maia deram por finalizado o Estado Novo.

Penso que toda a revolta começou a crescer ainda antes do início da guerra, com a morte de Humberto Delgado: a sua única fonte de esperança, sem medo de dizer o que lhe ía na alma, acabou no mesmo destino que todos os outros que por instantes decidiram fazer frente a todo um movimento.
E teve culminar exactamente naquele dia de Abril, em que cravos vermelhos passearam por Lisboa em sinal daquela Liberdade desejada, e esta Liberdade vai além da mera Liberdade de expressão; é toda uma Liberdade de pensamento, de comportamento, de vida.

Seja que revolução for, das mais revolucionárias (passo a redundância) às menos sentidas globalmente, não costumo dar atenção ao porquê do seu início, às verdadeiras razões daqueles que as despoletaram e não aquelas que são publicamente expressas. Neste caso passasse o mesmo: os militares até podiam estar unica e exclusivamente preocupados com as suas carreiras e vidas, mas acabaram por mudar a situação de todo uma país, o qual agradeço do fundo do meu coração.
Do que tenho pena, e uma pena profunda, é de não ter existido uma maior gestão e organização depois de todo o movimento de Abril.
Foi o total caos! Tudo o que ficou por dizer durante cerca de 50 anos foi dito, foi feito, foi mostrado! Nem o Governo Provisório se aguentou muito tempo, tal era o caos, e o próprio MFA teve de tomar as redeas por uns tempos. O problema é que ninguém sabia para onde se virar, tantas eram as opções.

Foi altura de reviravolta. Tenho pena que o rumo tomado tenha chegado e este impasse, a esta política imunda e não dá esperança a ninguém. Aliás, a gestão é tão má que mesmo em recessão nos damos ao luxo de dar milhões a um país em falência!

Um dos maiores lugares-comuns portugueses que se ouve é que o 25 de Abril ainda não acabou.
Honestamente, acabou. Acabou ali, à meia-noite, quando começou o dia 26. O 25 de Abril foi efémero, foi a Revolução, foram os cravos nas espingardas e o povo na rua.
Porque o 25 de Abril é sinónimo de mudança, de luta por ideais, de uma vontade expressa em mudar a realidade presente. Onde encontramos isso agora? Quando supostamente nada nos impede, ao contrário do que acontecia no Estado Novo, não nos levantamos e dizemos que queremos demitir quem não nos deixa viver dignamente! Temos a liberdade necessária e estamos tão acostumados a ela que mesmo criticando não lutamos por nenhuns ideais, não nos juntamos para mudar uma realidade conjunta!
Há 36 foram os militares que deram o primeiro passo, e hoje ninguém o dá; escondem-se atrás de greves que não têm resultado e ameaças que não são levadas a cabo.
Ninguém vê que o 25 de Abril acabou? Temos a liberdade à nossa frente e nada fazemos com ela.

O 25 de Abril está morto e enterrado nos livros de História e corações que o viveram, relembrado apenas uma vez por ano.
Não pode estar vivo...



Mesmo continuando a apregoar as palavras, já nem se unem por aquilo que realmente interessa.



O momento fatídico.

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Crónicas à minha História