sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Propaganda num mundo de símbolos sem sentido

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Como se pode ver, é um convite a toda a população de Beja a dirigir-se ao teatro Pax-Julia para assistira a uma sessão de propaganda do Estado Novo. E como também se pode ver, diz uma miríade de coisas acerca do mesmo Estado, com os seus grandes feitos, com o salvamento da Nação bem patente. Até salientam com uma letra maior ou mais escura esta e aquela palavra para acentuar o quão bom o Estado Novo é, que não só restabelece a ordem na rua, como nos espíritos.
Agora, uma coisa gira de reparar é que estes cartazes eram feitos para avisar uma população no seu geral analfabeta que ía existir algo num certo local em Beja. Ora, ou quem sabia ler andava a espalhar de boca em boca a notícia, ou a aderência não devia ser assim tanta.

Talvez fosse também por isso que veio aquela necessidade de uma "política de espírito", mesmo que a existência de uma população analfabeta não fosse totalmente mau, quando não percebe o que está por detrás daqueles belos discursos e daqueles bonitos textos (analfabetismo funcional seria com certeza igualmente uma realidade).
E nisso temos de dar a mão à palmatória: um país moderno tinha de ser um país culto! Mas toda a modernidade tem limites, por isso vamos só dar cultura às pessoas, mostrar que nos preocupamos, que nos podemos dar ao luxo de nos preocupar com tal coisa, mas não vamos cá aderir a essa coisa da indústria; vamos ficando pelos campo, que aqui estamos bem!
E novamente temos de dar o braço a torcer, que o Presidente do Conselho lá acabou por perceber que nem tudo é braco e preto somente. Olha que agora, estar aqui a dizer que o senhor não fez nada pelo desenvolvimento da indústria portuguesa...

E como nem tudo é apenas branco e preto, há umas zonas assim para o acinzentadas, não podemos igualmente dizer que tudo o que Salazar fez foi mau; o que Salazar fez de mal, para além de estar à frente de um Estado totalitário, foi não saber como realmente modernizar o país, como levá-lo para a frente; como investir, em vez de continuar a massacrar a população para manter os cofres cheios.

E digo: mais fazia falta agora, para além de soluções económicas a curto e longo prazo e uma economia etável, uma Exposição do Mundo Português, e digo-o com toda a crença e sinceridade. Talvez não já imediatamente, mas era necessário algo que nos fizesse ter de novo orgulho no país que temos. Num país com o povo desagarrado às raízes, sem qualquer laço que una para além da selecção de futebol e do Governo que não sai da crise e o qual gostamos de criticar, uma Exposição do Mundo Português talvez fosse bem vinda para fazer ver que não há apenas futebol e más políticas.
Isso, enalteceu Salazar. Bem ou mal, isso é já discutível.
O meu nacionalismo não chega a ser tão ferranho, mas gosto de pensar no local onde nasci com um pouco de mais carinho do que aquele que hoje se vê.

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