terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Guerras e culturas

Podia vir dissertar acerca da guerra, de como começou, de como decorreu, de como acabou e quais as consequências. Mas isso não é nada de novo; não é nada de novo que Hitler,com as suas pretensas de dominar o mundo, invadiu a Polónia e despoletou a guerra. Enquanto atirava bombas a uns países e invadia outros, decidiu mandar judeus para campos de concentração e matar a torto e a direito aqueles que não considerava dignos de partilhar o seu espaço.
A Segunda Guerra Mundial deve ter sido nos momentos mais tristes e infelizes da História da Humanidade, e podia falar dela. Até podia falar em filmes como Schindler's List ou outro qualquer que fizesse menção a tal período.
Hoje, não o vou fazer. Vou antes mostrar como era vista esta guerra pelos olhos de dois jovens americanos, que partilharam uma visão com o mundo.

Jerry Seagel e Joe Shuster foram dois jovens americanos judeus que partilhavam um gosto pela banda desenhada. Quando se conheceram e deram conta deste seu comum interesse, decidiram fazer a sua própria banda desenhada. Nasceu um mito.

Superman era a o defensor do espírito americano, da verdade e da justiça; defendia os fracos e oprimidos dos males com que se deparavam. Factor importante: nasceu em meados dos anos 30, década do crescimento do nazismo e anti-semitismo.
Não terá sido então por acaso o nascimento de tal herói pela mão de dois judeus. Seagel e Shuster criaram a figura perfeita para defender alguém que precisasse de ser salvo, em tempo de guerra e de opressão; todo o mundo precisava de ser salvo.

Admiradora da obra dos dois americanos, tenho na minha prateleira um livro com todas as tiras de banda-desenhada que foram publicadas nos jornais de domingo entre 1939 e 1943.
A última história lançada, em 1943, está directamente relacionada com a conjuntura internacional: para além de ser « respeitosamente dedicada à maior, melhor treinada e eficiente Força Armada na Guerra (...) - A Força Aerea americana », com o Homem de Aço a salutar a mesma e elevá-la, ainda ajuda um americano a treinar para passar no exame de admissão do Exército, para se alistar e ir para a guerra defender o país e a democracia. E não se fica por aqui: Clark Kent - identidade secreta do primeiro super-herói de BD -, na fila para o exame, diz ao amigo: « Estás em boa companhia, Dave. Jovens de todas as raças, religião e nível social... Um exército verdadeiramente democrático.. Todos animados pelo mesmo desejo determinante... Destruír a ameaça do Eixo! ». Ora, penso que por aqui se vê como toda uma sociedade via o conflito e a participação do seu país como defensor dos bons valores.

No mesmo livro, temos um bonus, lançado originalmente em 1940:
Como acabaria o Super Homem com a Segunda Guerra Mundial?, é esta a questão, que prontamente nos é respondida: o super-herói chegaria a Alemanha, pegaria no Hitler como se tratasse de uma pena, e levaria-o ao seu destino. Mas, antes disso, faria ainda uma paragem:
Uma paragem pela Rússia para pegar também no amigo Estaline, e levar ambos até à Sociedade das Nações para serem julgados. A Sociedade das Nações, que se manteve parada enquanto ambos cresciam.

Notar então quais eram as ameaças: não se trata apenas de Hitler e do seu exército nazi; também Estaline merece ser preso. Aliás, são referidos pelo próprio Super Homem como os «os dois maus loucos por poder responsáveis pela presente doença da Europa», e acabam por ser culpados «pelo maior crime da História - agressão não provocada contra países indefesos».

Basta ver uma pequena banda-desenhada para perceber tanto acerca de uma mentalidade...

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