terça-feira, 20 de outubro de 2009

Algo novo

A guerra, no meio de toda aquela desgraça e tristeza, chega a ter alguns (ínfimos) aspectos positivos: num ambiente de incertezas e novas perspectivas, as mentalidades e comportamentos decidem seguir por caminhos diferentes.
Como mulher que sou, não me queixo.

A guerra, a bem ou a mal, abriu novas portas. A partir daquele momento em que nos permitiram trabalhar como iguais, algo mudou; toda uma luta passou a fazer sentido, pelo menos aos nossos olhos.
É interessante como tudo se processa: algumas mulheres começam a achar que algo está errado; essas mulheres começam a mostrar que algo está errado; essas mulheres e outras que se lhes juntaram começam a manifestar-se porque algo está errado; manifestos são lidos a favor dos direitos femininos; os manifestos e lutas não são aceites; chega a guerra e quase que pedem às mulheres o que antes lhes negavam: que façam o mesmo trabalho do que os homens, mas claro que iguais, iguais, nunca são (duh!).
Ao longo do tempo lá fomos lutando, as mentalidaes lá foram mudando, até chegarmos onde estamos hoje. E mesmo que pareça que nada há mais a fazer, a escada a subir ainda é longa.
Um século é muito tempo e faz muita coisa, mas não basta.



Mas quem fala na mulher fala em praticamente tudo. Foi uma mudança quase que radical, que, historicamente falado, foi quase de um momento para o outro!
No entanto, estes novos comportamentos e valores, apesar de muito positivos por um lado, deixam muito a desejar por outro: esta massificação que tem vindo a crescer ao longo do tempo e parece não ter fim é puro obstáculo a uma identidade cultural; ao fim de décadas de massificação e do crescimento de um sistema capitalista que apenas contribuí para o seu aumento, já quase que não me consigo identificar com qualquer cultura, a não ser uma identidade que é praticamente global. Os traços que me marcam como Portuguesa vão desaparecendo ao longo do tempo, enquanto importo cada vez mais hábitos e comportamentos que de mim não são naturais, e filmes, e música, e literatura...
Sempre aliado ao crescimento económico dos Estados Unidos, esta massificação patente no pós-guerra e intensificada ao longo do século é menos benéfica do que o pensado - transformámo-nos em clones. Clones puros e duros, que se vestem da mesma maneira, ouvem a mesma música, comem nos mesmos sítios a mesma comida, que se divertem da mesma maneira, hoje mais do que nunca.

No entanto, nada como uma revolução de valores para mudar qualquer percepção conservadora de algo tão aparentemente permanente, como o casamento.
Foi bom, e tão mau ao mesmo tempo. Mas era inevitável: num mundo capitalista, do domínio do país ao domínio do mundo vai um passo pequeno; apenas bastou que as bases morais se desmoronassem para entrar e mostrar um novo mundo.
Um belo mundo, ou o caminho para um outro pesadelo?

Há sempre o outro lado da moeda.

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Crónicas à minha História